A semana em que Bolsonaro desMOROnou

Na mesma semana em que Bolsonaro participou de manifestações que pediam um novo AI5, o que evidencia ainda mais a ameaça que ele representa à democracia, Bolsonaro conseguiu surpreender novamente até mesmo seu eleitorado, ao exonerar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Leite Valeixo e culminar no pedido de demissão de Sérgio Moro.

Por interferir diretamente sobre o trabalho da PF e passar por cima de Moro, o até então ministro da Justiça e Segurança Pública demonstrou reprovação e pediu demissão do cargo, oficializado em uma coletiva de imprensa feita hoje pela manhã.

Moro disse que é inadmissível que um Presidente intervenha no trabalho da Polícia Federal e quem nem mesmo Lula ou Dilma fizeram isso durante a investigação da Lava Jato.

Apesar dos motivos para a exoneração de Valeixo não terem sido esclarecidos, é no mínimo suspeito o interesse do Presidente em colocar alguém de confiança no lugar de Valeixo em meio a uma investigação da PF que busca investigar familiares de Bolsonaro.

O próprio Moro destacou que Bolsonaro demonstra ter preocupações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e querer informações sigilosas sobre os casos, o que não é trabalho da PF. Provavelmente estava se referindo às investigações sobre fake news envolvendo seu filho Carlos Bolsonaro, além das acusações sobre os atos antidemocráticos do último fim de semana.

Se o eleitorado de Bolsonaro já andava oscilando diante das ações questionáveis que ele vem acumulando desde 2018, agora o pedido de demissão de Moro, junto às diversas acusações contra o Presidente, comprometeu sua imagem de “deus do combate à corrupção” de uma vez por todas.

Depois do pronunciamento feito por Moro hoje, Bolsonaro pode ser investigado por 7 crimes. Já no pronunciamento do Presidente feito em seguida, em resposta a Moro, ele deu a entender que o Ministro tentou negociar sua indicação para o STF em troca de permitir que o Presidente interferisse na Polícia Federal.

As alfinetadas entre os dois têm trazido à luz o jogo de poder que sempre os envolveu, e com certa ironia. O mesmo Moro que negou sua parcialidade ao manter conversas com o advogado de acusação no caso Lula, afirmando que conversas por aplicativos de mensagens instantâneas não são provas concretas, agora diz que tem provas contra Bolsonaro, inclusive de conversas por aplicativos de mensagens instantâneas. Moro não é inocente.

De que forma aqueles que enxergavam na aliança entre Moro e Bolsonaro a maior prova de sua integridade vão conseguir sustentar sua defesa ao Presidente agora? Parafraseando, com os devidos créditos, a expressão de Luciana Genro sobre tais acontecimentos, esse pode ser o marco da semana em que Bolsonaro desMOROnou.

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Aline Gasperi
Formada em Letras e com Mestrado em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina.
Pós-graduada em Bíblia: Interpretação e Comunicação pela Faculdade Teológica Sul Americana.
Participante do EPJ de Londrina (Pr)

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